Ação e Reação


Você pede desculpas ao seu marido, mas ele continua brigando. Você traz flores para sua esposa,
só que ela não o perdoa no ato. Infelizmente, ação e reação instantâneas só acontecem na física. Na psicologia, nas finanças e na economia sempre existe um intervalo demorado entre ação e reação.
Não saber avaliar corretamente o intervalo de reação de sua esposa, de seu chefe ou de uma política econômica tem sido a principal causa dos conflitos entre seres humanos e a razão dos insucessos da Economia como ciência.
Não saber ao certo esse intervalo causa enormes problemas. Primeiro, economistas nunca conseguem avaliar se 1) suas políticas fracassaram, se 2) erraram nas estimativas do intervalo de reação ou se 3) erraram na dose da ação interventora.
Quando uma política econômica ou social não dá os resultados esperados, os economistas que a implantaram invariavelmente se defendem pedindo mais tempo, nunca aceitando que erraram na política. Normalmente aumentam a dose da variável econômica em vez de abandonar a idéia por inteiro, elevando, por exemplo, ainda mais os juros, dando maiores subsídios, aumentando ainda mais os gastos públicos, e assim por diante.
Foi dessa forma que nossos juros foram subindo, subindo, subindo, em vez de se mudar a política econômica, como finalmente ocorreu. Só quando a política está prestes a arruinar o país é que se muda a equipe econômica e sua nefasta política, para a alegria geral da nação, normalmente na direção diametralmente oposta.
Essas duas políticas econômicas, "mais da mesma coisa" e "guinada de 180 graus", resumem praticamente 95% das políticas econômicas implantadas neste país nos últimos 35 anos. Esse vai-e-vem até já foi batizado como política de "stop and go". A mesma sensação que se tem ao sair com o carro na segunda marcha.
Agora imaginem, em vez de lidar com uma única variável e seu intervalo de reação, ter de lidar com cinco ou mais variáveis ao mesmo tempo. Quem já tomou banho de chuveiro em casa antiga sabe como é difícil ajustar a temperatura quando é grande o intervalo de reação entre abrir a torneira de água quente e ter um fluxo de água na temperatura desejada. Requer paciência, num vai e vem sutil, requer disciplina. Imaginem agora acertar a temperatura com cinco torneiras e cinco intervalos de reação diferentes e desconhecidos. Tarefa simplesmente impossível.
Alan Greenspan, do banco central americano, e Armínio Fraga, do BC brasileiro, têm usado uma visão considerada "neoliberal", segundo a qual o sucesso da intervenção governamental depende do uso do menor número de variáveis possível, nesse caso a taxa de juros. Tentam calibrar a dose e observam os efeitos antes de agir novamente. As doses são homeopáticas, e impera a paciência. Ninguém acusa Greenspan e Fraga de "stop and go". Pelo contrário, a crítica mais comum é quanto à "lentidão" de decisão.
Ainda há quem acredite tolamente que uma equipe econômica de notáveis, controlando as dezenas de variáveis necessárias para desenvolver um país, conseguirá o seu intento. Parecem dizer: "Vamos usar todas as medidas que forem necessárias". Se com uma única variável já é complicado, imaginem com 50.
Se você almeja uma vida tranqüila, aprenda a avaliar corretamente o intervalo de reação de sua esposa, filhos, chefes e subordinados para não cometer os mesmos erros dos economistas: erros na dosagem da medida, erro na avaliação do intervalo de reação, erros na falta de paciência. Isso é bem mais difícil do que se pensa, porque, enquanto Greenspan e Fraga precisam controlar uma única variável, nós no dia-a-dia precisamos lidar com dezenas de variáveis ao mesmo tempo.

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